Memória
Esquecer um número de telefone, o que almoçou na semana passada ou onde anotou um endereço importante é normal. Entretanto, colocar a culpa desses esquecimentos na memória nem sempre está correto. Muitas vezes o problema é a falta de atenção.
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No livro Questões sobre memória, o médico Iván Izquierdo, do Centro de Memória da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), define memória como a aquisição, conservação e evocação de informações. O aprendizado é a aquisição dos dados e as lembranças são a evocação do que foi armazenado; logo, o esquecimento é a falta de evocação.
Para absorver e registrar informações que possam ser lembradas é preciso estar atento. As informações absorvidas com atenção são julgadas como úteis pelo cérebro e, por isso, armazenadas.
Mecanismos de funcionamento
A memória é um processo complexo que utiliza os cinco sentidos para captar informações e envolve diferentes habilidades e estágios. Falhas em qualquer uma das etapas pode resultar na perda da informação.
- Atenção: habilidade de estar atento para absorver as informações.
- Registro / Codificação: registro inicial da informação, assim que é recebida pelo cérebro. Nesse estágio é determinado se o dado será armazenado ou não e isso vai depender da atenção despendida e do quanto a informação é significativa.
- Armazenamento: se a informação foi registrada, ficará armazenada na memória de longo prazo.
- Consolidação: processo de utilização da informação que foi armazenada. Caso um dado não seja utilizado com frequência, será descartado pelo cérebro.
- Evocação / Lembrança: resgate da informação, seja voluntariamente ou porque se fez necessária em algum momento.
A cada informação, uma memória.
É possível classificar a memória de duas formas.
De acordo com a duração da informação:
- Memória de trabalho
Estágio inicial que depende da atenção, dura pouco tempo depois de terminado o evento a que se refere. É utilizada para guardar um número de telefone enquanto está sendo discado. Logo depois, o número é descartado pelo cérebro. - Memória de curta duração ou recente
O cérebro armazena a informação tempo suficiente para que ela seja utilizada – isso pode corresponder a minutos, horas e até dias. A informação guardada pode ser algo lido no jornal, por exemplo. - Memória de longa duração
Responsável pela lembrança de episódios ou fatos que aconteceram no passado, também é chamada de memória autobiográfica.
De acordo com o conteúdo da informação ou a função:
- Memória prospectiva
Dá a capacidade de lembrar o que deve ser feito no futuro e exige planejamento. Com essa memória é possível saber que há uma reunião marcada para as sete horas. - Memória verbal
Lembrança de eventos que envolvem palavras como, por exemplo, uma história contada por alguém ou a letra de uma música. - Memória Visual
Utilizada para lembrar de figuras ou imagens. - Memória de procedimento
Envolve a lembrança de um procedimento associado a uma habilidade motora ou hábito, como andar de bicicleta, nadar ou dirigir.
Falhas frequentes
Em geral, os problemas de memória começam a se apresentar depois dos 60 anos. Nas pessoas mais jovens, as falhas frequentes estão relacionadas a outros problemas, como distúrbios do sono ou déficit de atenção. “Quem dorme mal, pode mostrar-se mais irritado e com menor capacidade de concentração durante o dia, o que vai incidir diretamente na memória”, explica Camila Prade, neuropsicóloga do Centro de Reabilitação do HIAE.
Segundo a neuropsicóloga, a atenção é uma das funções mentais mais atingidas em casos de estresse, depressão, ansiedade e fadiga e, por consequência, os problemas começam a aparecer na memória. “Quando lidamos com muitas informações, nosso cérebro prioriza algumas e descarta outras, assim detalhes como ‘onde está a chave do carro’ podem ser esquecidos e confundidos com problemas de memória”, completa.
Doenças degenerativas
Desde o nascimento, o ser humano perde e repõe neurônios – células nervosas responsáveis pela produção e condução dos estímulos. Com o envelhecimento, a capacidade de reposição dessas células diminui. “Os resultados são as primeiras falhas de memória, como o esquecimento de fatos recentes e nomes”, explica o dr. Nasri.
Nas pessoas mais jovens, as falhas estão relacionadas a problemas, como distúrbios do sono ou déficit de atenção
O aumento da expectativa de vida acarretou mais casos de doenças degenerativas cerebrais. A principal delas é o mal de Alzheimer, o tipo mais frequente de demência, caracterizado pela perda progressiva das funções intelectuais.
Segundo o dr. Nasri, os primeiros sinais da doença se manifestam por meio da perda de memória. Os familiares devem estar atentos quando o idoso passa a esquecer nomes e fisionomias com muita frequência, além de compromissos e datas. Outros sinais são falta de assunto e iniciativa, incapacidade de manter um diálogo e respostas monossilábicas.
Memória afiada
Para manter a memória saudável e eficaz é preciso começar a treinar desde cedo. E não basta ler livros ou jornais, é preciso também dialogar, expor opiniões. “Durante a atividade argumentativa, o cérebro é requisitado para opinar e replicar, assim a argumentação é fundamental para a memória. Ao ler um livro, a pessoa pode apenas guardar a informação sem discuti-la, o que não tem o mesmo efeito no cérebro”, afirma o geriatra.
Algumas orientações para quem quer manter a memória afiada:
- Alimentação saudável, com baixo teor de gordura para prevenir doenças vasculares;
- Prática de atividades físicas;
- Estilo de vida menos estressante;
- Boa qualidade de sono;
- Estímulo da atividade mental com hobbies e leituras;
- Organização de compromissos;
- Intervalos frequentes entre as atividades para garantir melhor nível de concentração.
Tratamentos
Quando as falhas na memória tornam-se frequentes e passam a atrapalhar seriamente o cotidiano, é preciso buscar a ajuda de um especialista. Não é possível prevenir os problemas de memória com medicação, mas já existem medicamentos que atrasam a evolução de doenças degenerativas.“Nos próximos cinco anos teremos novidades em remédios para os problemas de memória, um dos males mais pesquisados hoje ”, afirma o dr. Nasri.
O Hospital Israelita Albert Einstein oferece uma avaliação neuropsicológica, muito importante no diagnóstico dos problemas que podem levar a falhas de memória. “Trata-se de um exame que investiga o funcionamento mental por meio de testes relativos às várias funções, como atenção e raciocínio lógico”, explica Camila Prade.
O tratamento é feito por meio da reabilitação neuropsicológica, que treina as funções afetadas e visa criar novas estratégias para compensar as funções prejudicadas. “Utilizamos estratégias compensatórias bastante eficazes, como o treinamento para uso de agenda”, explica a neuropsicóloga. A família também recebe orientação para aprender a conviver com as novas limitações do paciente